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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Trato é trato

Sempre me considerei uma pessoa meio possessiva e ciumenta. Mais a última do que a primeira. Mas sempre tentei me controlar e mudar esse defeito. Principalmente no que diz respeito à vida amorosa. Eis que com meu terceiro namorado – e espero que seja o último e eterno – resolvi fazer um trato. Um trato mais que justo, mas que nunca parei pra pensar a fundo o que realmente está envolvido.

O trato é o seguinte: meu namorado pode sim olhar para outras garotas, porém há uma condição. Ele só pode olhar se a garota não estiver olhando para ele ou, melhor dizendo, que ela não o veja olhando para ela. Não sei como cheguei até este trato. Talvez tenha sido no momento em que conclui que todos os homens olham para todas as mulheres. Que não tem nenhum rabo de saia que passe despercebido pelos olhares masculinos. Como isto não tem solução, resolvi amenizar o “problema” e faze-lo me atingir o quanto menos possível. Mas o que faz com que elas não vendo o olhar do meu namorado para elas, mude alguma coisa?

Em um primeiro pensamento, achei que fosse o fato de eu não querer dar o gostinho pra elas. Porque quando eu nem pensava em namorar alguém, já achava ridículo quando eu saía com minhas amigas e os namorados das outras ficavam nos encarando com ou sem intenção alguma. Ficava imaginando como seria se aquele namorado fosse o meu. Acho que por isso cheguei até este trato: pra que eu não passasse por a namorada que nada vê. E realmente faço de conta que não vejo. Mas confio que ele cumpra o trato.

Eis que um belo dia, estávamos eu e meu namorado passeando de carro pela rua mais movimentada da cidade. Quando estávamos quase em frente a um bar, havia duas mulheres e uma em especial vestida perigosamente: um mini-vestido preto com detalhes dourados e um scarpin amarelo brilhoso super mega chamativo. E eu ainda invento de comentar “Meu Deus, que sapato!”. Mal acabei de pronunciar a frase por completo e já me arrependi. Na verdade, já era tarde. Quando passamos por ela, meu namorado já estava olhando o sapato, subindo pelas coxas brilhantes pelo farol do carro logo atrás, como se estivessem piscando um alarme “OLHE! OLHE! Terreno vizinho em excelente forma”. Ah, esqueci de continuar a direção do olhar do meu namorado, subindo até o vestido preto com detalhes que ele com certeza nem sequer notou que eram dourados. E se não fosse o meu tapinha “de amor”, ele tinha perdido era a direção do carro.

A conversa posterior nem preciso comentar. Discutir relação na certa. “Cadê o nosso trato? Mas ela não olhou, amor! Mas tu precisava olhar ela de baixo a cima? Mas tu que comentou do sapato! Isso mesmo, comentei do sapato e não das coxas dela! Mas eu só fui ver o vestido se combinava, não olhei para as coxas! Sei, e o que tem no meio entre os sapatos e o vestido?”. E por aí vai. Mas e o trato? Será que é possível mesmo manter um trato destes com um homem? Burra fui eu de ter pensado alto. Mas duvido que mesmo que eu não tivesse comentado ele teria deixado de olhar. Talvez não teria começado pelo sapato. Maldito sapato.

Quem conhece um homem fiel sob o ponto de vista literalmente, avise-me! Como já li em algum lugar: “Homens gostam do que vêem; Mulheres gostam do que ouvem”. Assim como não existem homens que resistam a um belo par de coxas ou seios, não existem mulheres que resistam a uma frase de bom gosto saindo de uma boca masculina. Homens e mulheres são diferentes e não estou aqui para questionar ou comentar isso. O fato é o trato. Se um casal estabelece um trato, ele deve ser cumprido. E quando há alguma tentação na área é só se lembrar do que pode tentar o outro também. Afinal, não se faz para os outros aquilo que não quer que façam com você. Por isso, homens! Se alguma mulher vier arrastando uma asinha para vocês, lembrem-se: logo ali perto de suas mulheres pode haver um homem nem tão bonito, mas com as frases certas, na hora certa, na ponta da língua. Prontos para fazerem aquilo que vocês pensam em fazer com outras, da mesma forma, talvez até mais intensamente. Sim, isso é um texto feminista, escrito por uma mulher de tratos descumpridos por um homem com o cérebro localizado longe da cabeça.

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