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quinta-feira, 29 de março de 2018

Pensamento de gorda

Nunca fui das mais magrinhas. Aliás, acho que quando eu era "bem-bem pequena" talvez eu fui. Mas desde que me lembro fui 'cheinha' na barriga, o famoso triângulo invertido. Enfim, passei a adolescência, juventude e vida adulta até então brigando contra a balança. O efeito sanfona me adora. Sou realmente musical até nisso.

Nunca sofri um bullying específico por isso. Também nunca me senti das mais gostosas da sala ou do bairro. Mas confesso, sim, me incomoda. Principalmente quando vejo (e sinto) que as roupas que eu havia comprado na época da "vaca magra" (mas gorda no bolso) não servem mais. É triste, sim, muito triste. Porque me recuso, ardentemente, de ir lá e comprar novas roupas em tamanhos maiores. Quer pior frustração pra uma mulher? Chegar numa loja e ver que o número aumentou?

Mais triste é a depressão pré-biquíni. Nossa! Essa é pra matar! É pra deixar qualquer mulher sem comer durante duas semanas antes de ir à uma praia. As magras não sabem o que é isso. Mas o convite "Vamos pra praia?" ao mesmo tempo que alegra chega a causar um pânico por dentro ao mesmo tempo.

Enfim, dizem que a gente tem que se sentir bem consigo mesma. Que temos que ter amor próprio. Que a auto-estima vai muito além do corpo. Está na mente. Concordo! Existem mulheres mais cheinhas que se gostam e enchem a boca pra dizer que são felizes assim. E eu sinceramente acredito! O problema está quando mesmo a gente não sendo lá tão gorda, no pensamento é como se fosse. E é incontrolável. Está tão intrínseco na gente que quando se percebe já estamos naquela angústia ou arrependimento por ter comido algo além da conta.

Agora quando alguém que está ao nosso lado nos revela que nos acha gorda é o fim. Porque a gente até pode achar, mas nenhuma mulher quer que o seu par admita isso. Aliás, deveria ser uma lei vital entre todos os homens: Nunca, NUNCA mesmo, diga à sua mulher que ela está gorda. Ou pior, que você não a mais deseja por ela estar gorda. Isso é uma crueldade sim. É tortura mental. Pode virar um trauma fácil na cabeça de uma mulher que já tem a sua auto-estima não muito elevada.

Existem várias e várias formas de se falar uma mesma coisa. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas existe uma coisa chamada respeito. Respeito pelo que o outro sente. Amor. Porque o amor vai além de uma forma, vai além de uma fôrma. Se o corpo não alimenta o desejo, a alma o deveria fazer. Mas se quiser adequar o amor à uma fôrma, ele deixa de ser amor. Se é que um dia o foi.

A minha forma de amar está no caráter, no olho no olho, no sorriso, no arrepio, no sossego do abraço, e principalmente na forma como sou tratada. Isso é tudo! Tudo que o amor precisa! Tudo o que um gordo quer! Ser amado do jeito que se é. Sem ter que provar ou ser aprovado por ninguém. Pra isso já existe o espelho! Ele já é um baita teste de desaprovação. Ahhh, e minhas roupas, claro! Agora é questão de honra, elas voltarão a servir ou não me chamo Lívia.