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terça-feira, 4 de maio de 2010

Quem cala, consente!

Tenho notado em vários comentários com amigos que as relações se complicam justamente no silêncio. Algumas precisam de mais silêncio mesmo e o mínimo de interferências externas. Mas a maioria acaba se afundando em um silêncio que vai se acumulando ao longo dos anos. O marido tem certeza que a mulher sabe que ele não gosta de cebola no arroz. A mulher tem certeza que o marido sabe que ela não gosta que apertem a pasta de dente de uma tal maneira. Mas, na realidade, nenhum sabe dos gostos um do outro. 

Porque no início da relação é uma fase de descoberta constante. Tudo é motivo de curiosidade: Como tu gosta que te façam carinho? Qual é a parte que você mais gosta em mim? O que você mais gosta de comer? Qual a sua cor preferida? Você quer descobrir tudo do outro, pra agradar e conquistar este outro. Aí a paixão vai embora, as perguntas começam a ser menos frequentes e o silêncio vai tomando conta. Não se tem mais o que descobrir. Eu já sei tudo. Conheço ele há anos, ele nunca faria isso. Porque o meu marido gosta disso assim. Porque minha mulher sempre fala assim. Parece que nada mais nos surpreende.

Você tem certeza que seu marido sabe que você não gosta de lavar a louça, porque você sempre foge, vai no banheiro e só chega na cozinha quando ele já está lavando. Ou ele nunca faz isso e você fica "p da vida" porque ele faz isso de propósito. Ora, ele sabe que eu não gosto e mesmo assim não colabora. Mas você nunca disse: amor, prefiro secar a louça, vamos manter um trato? Quem cozinha, seca a louça? 

Ele tem certeza que você prefere passar a roupa do que tirar o pó, porque você nunca tira o pó. Não! Ele simplesmente não tem bola de cristal pra saber que você não gosta disso, simplesmente porque não faz. Simplesmente ele não sabe, porque você nunca disse.

E se baseando em deduções, a gente vai deixando o silêncio falar mais alto, acumulando fatos e atritos que quando chegarem a certo ponto, vão incomodar tanto que vão parecer catástrofes. Vão causar brigas desnecessárias, por bobagens que você vai parar uma hora e vai se perguntar: Nossa, porque a gente tá brigando por isso? Que coisa à toa! Mas mesmo sabendo disso, você vai ficar se remoendo e vai querer discutir até que o outro entenda, por bem ou por mal, que você quer as coisas do seu jeito. Porque aí nesse ponto, nem vai importar o que o outro prefere. Você já está querendo é se vingar do desgraçado que insiste em fazer daquele jeito, mesmo sabendo que você não gosta, só pra te irritar.

E o outro? Nem sabe. Nem tem como entender o porque dessa tempestade em copo d'água. Porque o silêncio fez questão de esconder o porquê. Ele é quem está no controle da situação agora. O diálogo já está fora do vocabulário de muitos relacionamentos. Talvez até o marido e a mulher já estejam fora desses relacionamentos. Talvez não fisicamente, mas em pensamento... já era! E garanto que quando acabar, não vão nem saber o porquê.