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sábado, 31 de julho de 2010

Ensinando e aprendendo

Há duas semanas estou dando aulas de teclado na Academia de Música Evidências. Entrar substituindo alguém, já é um desafio de bom tamanho. Ganhar diversos alunos de uma só vez, cheios de diferenças de aprendizagem e de vários níveis diferentes é um desafio maior ainda. Depois do primeiro impacto, estou me acostumando com a nova rotina e confesso: estou adorando dar aulas. Nunca pensei que diria isso, mas realmente é sensacional a gente ver o aluno aprendendo. Observar todo o processo de aprendizagem de alguém é, sem dúvida, algo mágico!  No meu caso, me refiro a dar aulas particulares e não em grupo.


Como já peguei o bonde andando, alguns alunos estavam estudando a mesma música, e é incrível a diferença de uma pessoa pra outra, a forma de tocar, a forma de aprender, a dificuldade de cada um, as manias e temperamentos, o jeito com que eles se auto-criticam quando erram, a maneira como comemoram quando acertam. É muito bom observar. Eu sempre fui fissurada pelo ser humano. Por tudo que envolve as relações humanas. Principalmente no que diz respeito a como compartilhar uma informação que você já tem conhecimento a outra pessoa que não sabe nada sobre aquilo.


É preciso saber como fazer para que cada pessoa aprenda da melhor forma o mesmo que você sabe, sob as condições e limitações dela. Parece que você tem que entrar no mundo dela, na forma, no jeito como ela pensa, nas "bagagens" que essa pessoa trás dentro de si, para ensinar de uma forma que aquela pessoa específica aprenda à sua maneira. Esses dias me deparei com um aluno dos pequenos, que não conseguia entender as divisões rítmicas. Para ele entender fração, porque teoria musical é pura matemática, é fração pura, fiz uma analogia das figuras com moedas de 1 real, 25 e 50 centavos, e assim por diante. Isso é um dos milhares de exemplos que se pode dar para a pessoa entender melhor. Aliás, como a música tem todo um simbologismo nas partituras, nada como se utilizar de analogias com coisas que as pessoas vivem todos os dias para fazê-las compreenderem mais facilmente aquilo que aparentemente está tão distante da realidade delas.


Não consigo desassociar o "ensinar" como "aprendendo em dobro". Assim como eu estou compartilhando o que já sei, o que aprendi, estou todos dias aprendendo algo novo. E o que eu tenho estudado, o tempo que tenho dedicado pra preparar as aulas, pra me desenferrujar de tanto tempo sem estudar tem sido muito desgastante, mas ao mesmo tempo gratificante. Estou conseguindo perceber resultados em mim e nos alunos. Me divirto trabalhando! E espero que eles também se sintam assim: aprendendo sem pressão e sem stress. Além do mais, música também é terapia e muitos estão lá não só para aprender como também para fugir um pouco dos seus problemas diários. Eles sabem que naquele momento da aula será um instante da semana em que eles vão parar e fazer algo por si mesmos. Algo que gostam e sentem prazer em fazer. E digo, o prazer também é meu! ;)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Apenas uma reflexão do meu momento

Este ano completou 4 anos que eu toco em barzinhos. Passou tão rápido e ao mesmo tempo eu vi muita, muita coisa acontecer. Tantas coisas que poderia escrever um livro sobre tudo que eu vejo do palco e por trás dos palcos. Aprendi muito no bar. Coisas que nenhuma escola, nenhuma aula de canto, nenhum canudo de graduação me ensinaria. Perdi o medo de falar em público, adquiri muita cara de pau mesmo. E de um ano pra cá, tenho me sentido mais livre. Mais à vontade, mais eu. E não levem para o lado egocêntrico da coisa. Eu simplesmente acho que me aceitei como Lívia e aprendi a me conhecer melhor. Aprendi a gostar de mim e a mostrar para as outras pessoas como eu quero que elas me vejam.


Acho que tudo veio de um processo bem lento, mas que valeu muito a pena e eu consigo perceber todo o resultado. Finalmente estou colhendo os primeiros frutos de uma plantação que custou vários desafios. E o pior desafio estava aqui, bem dentro de mim. Ops, eu mesma. Parei de achar que o mundo estava contra mim, simplesmente aceito quando não estou bem e vivo aquele dia como um dia passageiro, um dia para refletir, para me conformar que nem todos os dias são iguais, nem são tão bons assim. Mas amanhã terá sol. Amanhã eu terei uma outra chance. E o fato de eu pensar que amanhã existirá, é porque tenho fé. Pra mim, o meu gesto de colocar o relógio para despertar no outro dia, é sinal de que eu tenho fé.


E quando comecei a acreditar em mim e tomar posse dessa pessoa que me tornei e de que tenho orgulho, aceitei melhor o tempo que as coisas acontecem. E cada coisa tem o seu tempo. Eu também tive o meu. Não foi da noite pro dia que eu comecei a cantar, não foi num piscar de olhos que eu toquei piano, tudo fez parte de um processo. "A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau" (Mark Twain). E até eu processar tudo, foi o tempo certo para eu chegar aqui e perceber todos estes resultados. E valorizá-los. E como é difícil a gente se perceber. É muito mais fácil perceber as mudanças nas outras pessoas, incluindo as rugas, as manias e tudo que é defeito nos outros. Como eu me olho todos os dias no espelho, parece que eu sou aquela velha menina tímida, desconfiada, desajeitada....


Ainda bem que o tempo colaborou! Mas se eu não fizesse nada por mim, nada mudaria. Sempre gostei de me desafiar e de nunca me conformar com: "ah eu nasci assim e pronto, o resto que me aguente!". Não que eu queira agradar as outras pessoas, mas acho que gentileza, educação, bom caráter, são princípios básicos para uma boa convivência e indo ao encontro da campanha que está rolando na UNISC, eu quero ser lembrada como uma boa pessoa. E eu não mudo pelos outros, mudo por mim mesma, pelo que eu acho certo. Pelo que eu acho melhor pra mim. Aliás, acho que no fundo, ninguém muda por ninguém não. A gente só muda quando enxerga que aquilo ali tem que ser assim porque a gente acha que é o melhor pra gente, e não porque outra pessoa acha isso.


Enfim, comecei o texto falando dos barzinhos. Pois bem, posso dizer que os "botecos" me ensinaram muito. Aprendi a lidar com pessoas diferentes, a observar como as pessoas agem em grupos (na noite todo mundo quer conquistar o outro, independente de qualquer intenção), aprendi a vender minha dupla e banda, a entender um pouco mais do que se passa na cabeça dos contratantes, em como eu posso fazer pra eles me entenderem, aprendi em como conquistar o público (com humildade e um bom e largo sorriso no rosto). Quando eu subo no palco, esqueço o que estava lá atrás (problemas, preocupações) e estou ali assim como o garçon está para o bar. Sim, não posso pensar que estou fazendo um show num boteco. Ali eu sou um legítimo cartão de visitas. As pessoas podem entrar no bar e se sentirem à vontade com o ambiente, com a decoração. Mas se as peças vivas que compõem o bar não estiverem de acordo com esse "aconchego", pode ter certeza: os clientes não voltarão outra vez ao mesmo bar. Por exemplo, se eu ficar aumentando o volume pra que eles prestem atenção em mim a todo custo, só vou afastá-los do meu objetivo. E do objetivo do dono do bar também. Eu sei: o dono quer que eles bebam mais pra vender cerveja, as pessoas estão indo lá pra se divertir e se distanciar dos seus problemas em casa e no trabalho, e eu estou lá pra fazer o que gosto e ganhar meu dinheiro no final da noite. Mas não é só isso. Entender esse processo que estou há 4 anos, me deixa mais conformada porque sei que o que eu tinha pra absorver de observações e aprendizado, eu consegui ao longo desse tempo. O boteco me ensinou e eu "me deixei aprender"!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Gentileza, prazer!

Há algumas semanas, eu estava indo para o meu curso de inglês, passando por uma esquina de um famoso bar aqui da minha cidade, justo no horário de happy hour, com muitas pessoas já bebendo, passando de carro pra ir pra faculdade ou saindo do trabalho. Fui caminhando e observando aquela pressa no olhar das pessoas pra chegar a lugar nenhum. De repente, no meio daquele tumúlto, vejo uma menina carregada de sacolas, vinda com certeza de um supermercado. No mesmo instante que a vi, só ouvi o estouro de coisas caindo no chão e as sacolas se arrebentando uma a uma em minha frente.  Aliás, sobrou somente uma pra contar a história e servir de step para os produtos das outras sacolas arrebentadas.

A menina ficou parada, não sabia se juntava, se deixava tudo ali jogado... E todo mundo parado ao redor dela, sem reação. Imediatamente me ofereci para ajudá-la. E os olhos ao redor ligeiramente se viraram pra mim. Eu, sem me sentir envergonhada, já fui ajudando-a a colocar as coisas de volta ao seu lugar e a própria menina teve uma reação um tanto estranha comigo: não sabia se agradecia, se ficava desconfiada com o meu gesto de bondade ou se me deixava ali pra ficar com a vergonha dos olhares alheios só pra mim.

Educadamente entreguei as sacolas arrebentadas e ela, ainda meio sem jeito, me agradeceu. Quando saí da cena, parece que tinha perdido uns 5 quilos de tanto ser analisada. Aos poucos, as pessoas foram voltando as suas conversas e aos seus pensamentos. E eu, continuei andando como se nada tivesse acontecido. Não sei se me senti melhor por isso ou não. Talvez depois que passasse por ela, me arrependesse de não tê-la ajudado. Mas fiquei com aquela sensação de dever cumprido. Dever? Não sei se devia, mas o fato é que agi sem pensar mesmo, simplesmente sou assim: não consigo jogar lixo no chão, não consigo ver alguém tropeçando de cair duro e não ir lá ajudar. Coração mole, minha mãe diria. E tenho certeza que ela faria o mesmo. Ou seja, minha mãe me deu educação e fez com que eu agisse assim, bem obediente, sempre optando pelo bom senso.

Mas o que me impressionou foi a reação das pessoas com a minha atitude. Não pensei que causaria tanto impacto em meio aquele movimento todo de pessoas pra lá e pra cá. No final do ano passado, em um pequeno discurso em meio a uma apresentação da dupla que toco, eu disse que faltava gentileza nas pessoas. Aquelas pequenas coisas do dia a dia que foram se perdendo como levantar do banco que se está sentado para uma grávida ou idoso que não tenha lugar vago para sentarem, abrir a porta do edifício e esperar o vizinho que está se aproximando, dar "bom dia", perguntar "oi, tudo bem?" e esperar pra ouvir a resposta, olhar para as pessoas quando caminho na rua, entre outras pequenas coisas. Pra mim, não são pequenas. São mais grandiosas do que muita coisa que está sendo inventada por aí. Aliás, acho que precisamos reinventar a comunicação humana.

Comunicação não é somente através da fala, porque o nosso corpo também fala: as nossas mãos falam (quando se está nervoso, tentamos escondê-las pra escondermos nossa insegurança); os nossos olhos falam (pra que caminhar na rua, passando reto sem olhar para os lados, para as pessoas que cruzam o mesmo caminho que o seu?); todo o corpo fala de alguma forma. O contato de um ser humano a outro está se perdendo. Uma vez falei que talvez fosse culpa da tecnologia: computadores, amizades virtuais e superficiais... mas acho que a culpa é do homem mesmo. Tenta inventar tantas coisas e acaba esquecendo das mais naturais, que são vitais ao nosso viver. E a gentileza pode ser o caminho pra nos encontrarmos de novo e nos comunicarmos uns com os outros, com educação e respeito pelo outro. E quando alguém não agir com gentileza, não precisa dar o troco na mesma moeda. Mostre que tem educação e desarme quem não a tem. Se a pessoa apenas estiver em um dia ruim, vai se dar por conta na hora de que não o tratou da maneira como deveria. Dever? Talvez seja mesmo um dever. Caso o outro não conheça a Gentileza, simplesmente apresente: Gentileza, prazer!