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terça-feira, 13 de maio de 2008

Coração em chamas

(texto descritivo, feito para uma disciplina na faculdade - em 2002)

Vermelho. É apenas um simples moletom, mas aquela cor me prende a atenção. Posso ouvir o barulho da água caindo, rolando no chão. Chuva, muita chuva. Posso tocar minha bolsa e sentir que ela está molhada. Posso sentir o cheiro de terra molhada. Mas meus sentidos estão todos voltados para ele.

Um ar frio se aproxima, parece gelar ainda mais meu corpo. A água continua a cair sobre meu rosto. Mas o vermelho, este queima arde, é fogo que acende aqui dentro. Parece subir, da ponta dos pés até as pontas dos meus cabelos, já molhados, encharcados. Sobe, como uma avalanche que vai levando tudo que está pela frente, mas sobe, esquenta, prende fogo.

Coração batendo forte, ligeiramente apertado. Acelero os passos sem perceber. Um ritmo quente, alucinado, que chega a palpitar de desejo. Maçãs do rosto coradas. Me aproximo dele, e um largo sorriso me recebe. Sorriso bobo, de alguém que ri do nada, ri até sozinho, tamanha é a alegria da minha presença. Os olhos brilham ao me ver. Olhos verdes, e que olhos! Duas esmeraldas reluzindo talvez, uma paixão reprimida. Dos seus lábios um “olá!” . Mas de seu coração não sei, não sei o que quer me dizer.

Saio em passos largos, rápidos, como os de quem tem vergonha de fixar os olhos de outrem e revelar seus sentimentos, sua alma. Vejo a porta à qual me dirijo, está fechada. Mas só consigo sentir a energia atrás de mim; me sinto observada, analisada – analisada com malícia. Rapidamente olho para trás e vejo ele, escorado em uma parede, ainda me cuidando. Com um ar de quem não quer nada, passa a mão entre seus cabelos curtos, castanho-escuros, lisos, macios. Só vejo seu exterior, mas sua alma, seu coração não. Me interessa saber o que ele pensa, o que sente. Talvez um dia, com ele meio distraído, eu consiga arrancar algo de dentro dele, e assim descobrir o grande mistério que acerca seu coração.