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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Obra tem prazo de validade?

Hoje acordei com uma vontade enorme de matar pedreiros. E com toda razão e direitos reservados. Conclui que obras e reformas deveriam ter prazo de validade. E a do meu prédio, com certeza, já passou faz tempo. Porque eu já conclui meu curso na faculdade, quase conclui meu namoro em casamento. Mas as reformas no prédio ainda estão em andamento. Andando não sei pra onde. Mas sem conclusão determinada.

O que mais me incomoda não são os barulhos das serras elétricas e nem dos martelos batendo o dia todo em cima da minha cabeça. Mas sim os pedreiros. Ah, os pedreiros. Sim, aqueles mesmos que quando a mulherada passa pela obra, ficam gritando e assobiando para chamar a atenção. Quando uma mulher está com baixa auto-estima, é só passar por qualquer obra em andamento. A do meu prédio é um pouco diferente. Pouco? É, não vou exagerar. Mas vou expor meus pensamentos em andamento.

7h da manhã. Nem preciso de despertador, nem galos cantando na janela. Bastam os pedreiros e seu andaime. Não tenho escolha. Para falar a verdade, faz dois anos que eu não tenho escolha dentro de minha própria casa. Privacidade, não sei mais o que é isso. Tenho que estar sempre bem arrumada. E com roupa. Porque se colocar o pé na sala, posso dar de cara com dois pedreiros na minha sacada pintando as paredes e bisbilhotando pra dentro do apartamento. Ou até dentro do próprio apartamento, como já aconteceu. Como diz certa atriz global, “estava eu” no meu quarto, quando de repente ouvi um barulho e fui até a sala e me deparei com um pedreiro no meio dela com uma serra elétrica na mão. Agora já até me acostumei, por incrível que pareça (e assustador, talvez!).

No entanto, o que mais impressiona são os papos dos pedreiros. Novelas eu não assisto mais. Nem precisa. Eles comentam tudo um pro outro. E não são cochichos. Imagina só: um pedreiro no 10° andar e outro lá no térreo, “tu viu ontem aquele casal da novela se pegando, bah, que gostosa aquela Flávia Alessandra”. Microfone seria desnecessário. Eles já nascem com uma garganta de ouro, pronta para soltar o grito. E assoviar, então? Todos têm o dom fantástico de assoviar maravilhosamente bem. Quem me dera pudesse aproveitar umas aulas gratuitas durante as reformas para aprender esta arte. Sim, porque eu prefiro mil vezes os assovios melódicos deles do que ouvir comentários do tipo: “olha só, a mulher do 803 tá sozinha em casa, o maridão já saiu pra trabalhar!”.

Eles já decoraram tudo. A que horas as pessoas normalmente almoçam, que horas chegam do trabalho, se ficam ou não ficam em casa durante o dia, as calcinhas no varal, os móveis de cada apartamento, os carros de cada morador, talvez até o nome de alguns. Eu não conheço nenhum pedreiro. Mas a presença deles já me traz uma aversão a qualquer membro dessa classe operária. E olha que não sou uma pessoa possuidora de preconceitos. É com provas, testemunhos e todos os motivos a meu favor para chegar a essa conclusão.

Deveria de haver um regulamento para pedreiros, uma espécie de treinamento para saber como se comportar em um prédio durante as reformas. Como ser discreto, educado, respeitoso (antes de entrar no apartamento, bata na porta como as minhas visitas normalmente fazem – e eu também), ágil (porque não é possível que em dois anos não se termine uma reforma), ter noção de horário (começar a assoviar ou a comentar a novela só após as 9h da manhã). Noções básicas de como ser um bom pedreiro. E em uma reforma grande desse gênero, o mínimo que podiam fazer era apresentar os pedreiros a todos os moradores do prédio, porque qualquer um pode entrar e dizer que é pedreiro que eu não vou desconfiar de nada.

Mas convenhamos, como vou poder me sentir segura após esta reforma? Acho que vou ter que reformar minha cabeça. É provável que eles saibam mais de mim do que minha própria mãe. Em tempos de “homens-aranhas” subindo nos prédios para roubar até uma TV de plasma de 42 polegadas, é de se sentir, no mínimo dos mínimos, insegura. Aliás, sinto-me mínima diante de tanta evolução de abordagens dos bandidos. Realmente, a coisa mais organizada e inteligente no Brasil, é o crime organizado. Os pedreiros estão longe de serem organizados.

Acho que a vontade de matar passou. Mas continuo achando que toda e qualquer reforma deveria ter um prazo de validade. Mas em se tratando desta reforma específica, acho que eu caso antes e, se bobear, ainda convido algum dos pedreiros para ser padrinho.

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