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terça-feira, 6 de julho de 2010

Gentileza, prazer!

Há algumas semanas, eu estava indo para o meu curso de inglês, passando por uma esquina de um famoso bar aqui da minha cidade, justo no horário de happy hour, com muitas pessoas já bebendo, passando de carro pra ir pra faculdade ou saindo do trabalho. Fui caminhando e observando aquela pressa no olhar das pessoas pra chegar a lugar nenhum. De repente, no meio daquele tumúlto, vejo uma menina carregada de sacolas, vinda com certeza de um supermercado. No mesmo instante que a vi, só ouvi o estouro de coisas caindo no chão e as sacolas se arrebentando uma a uma em minha frente.  Aliás, sobrou somente uma pra contar a história e servir de step para os produtos das outras sacolas arrebentadas.

A menina ficou parada, não sabia se juntava, se deixava tudo ali jogado... E todo mundo parado ao redor dela, sem reação. Imediatamente me ofereci para ajudá-la. E os olhos ao redor ligeiramente se viraram pra mim. Eu, sem me sentir envergonhada, já fui ajudando-a a colocar as coisas de volta ao seu lugar e a própria menina teve uma reação um tanto estranha comigo: não sabia se agradecia, se ficava desconfiada com o meu gesto de bondade ou se me deixava ali pra ficar com a vergonha dos olhares alheios só pra mim.

Educadamente entreguei as sacolas arrebentadas e ela, ainda meio sem jeito, me agradeceu. Quando saí da cena, parece que tinha perdido uns 5 quilos de tanto ser analisada. Aos poucos, as pessoas foram voltando as suas conversas e aos seus pensamentos. E eu, continuei andando como se nada tivesse acontecido. Não sei se me senti melhor por isso ou não. Talvez depois que passasse por ela, me arrependesse de não tê-la ajudado. Mas fiquei com aquela sensação de dever cumprido. Dever? Não sei se devia, mas o fato é que agi sem pensar mesmo, simplesmente sou assim: não consigo jogar lixo no chão, não consigo ver alguém tropeçando de cair duro e não ir lá ajudar. Coração mole, minha mãe diria. E tenho certeza que ela faria o mesmo. Ou seja, minha mãe me deu educação e fez com que eu agisse assim, bem obediente, sempre optando pelo bom senso.

Mas o que me impressionou foi a reação das pessoas com a minha atitude. Não pensei que causaria tanto impacto em meio aquele movimento todo de pessoas pra lá e pra cá. No final do ano passado, em um pequeno discurso em meio a uma apresentação da dupla que toco, eu disse que faltava gentileza nas pessoas. Aquelas pequenas coisas do dia a dia que foram se perdendo como levantar do banco que se está sentado para uma grávida ou idoso que não tenha lugar vago para sentarem, abrir a porta do edifício e esperar o vizinho que está se aproximando, dar "bom dia", perguntar "oi, tudo bem?" e esperar pra ouvir a resposta, olhar para as pessoas quando caminho na rua, entre outras pequenas coisas. Pra mim, não são pequenas. São mais grandiosas do que muita coisa que está sendo inventada por aí. Aliás, acho que precisamos reinventar a comunicação humana.

Comunicação não é somente através da fala, porque o nosso corpo também fala: as nossas mãos falam (quando se está nervoso, tentamos escondê-las pra escondermos nossa insegurança); os nossos olhos falam (pra que caminhar na rua, passando reto sem olhar para os lados, para as pessoas que cruzam o mesmo caminho que o seu?); todo o corpo fala de alguma forma. O contato de um ser humano a outro está se perdendo. Uma vez falei que talvez fosse culpa da tecnologia: computadores, amizades virtuais e superficiais... mas acho que a culpa é do homem mesmo. Tenta inventar tantas coisas e acaba esquecendo das mais naturais, que são vitais ao nosso viver. E a gentileza pode ser o caminho pra nos encontrarmos de novo e nos comunicarmos uns com os outros, com educação e respeito pelo outro. E quando alguém não agir com gentileza, não precisa dar o troco na mesma moeda. Mostre que tem educação e desarme quem não a tem. Se a pessoa apenas estiver em um dia ruim, vai se dar por conta na hora de que não o tratou da maneira como deveria. Dever? Talvez seja mesmo um dever. Caso o outro não conheça a Gentileza, simplesmente apresente: Gentileza, prazer!

3 comentários:

  1. Oie... Como é bom ler os teus textos...
    bjus

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  2. Enquanto leio fico pensando no que você deve ter feito diante da dificuldade da menina... ah sim, você a ajudou. (sorrio). A questão de ser dever ou não creio ser pessoal. Para uns seria facultativo, para você Lívia e para mim não. Os olhares não devem ter sido por menos que admiração de você. Nem todo mundo pratica a gentileza, mas todos a admiram quando ela ocorre.
    Lívia, o corpo realmente fala. Conheço os livros de Thérèse Bertherat e Carol Bernstein e, eles falam justamente desta linguagem do corpo. Você certamente os deve conhecer também. E gentileza Lívia, é
    uma linda linguagem do corpo. Apoiada moça! Abraço!

    Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com de blog em blog

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  3. Obrigada pelas mensagens! É bom saber que ainda tem pessoas generosas nesse mundo e que não estou sozinha nessa! ;) Obrigada pelas lindas palavras Jeh! Aproveite e siga meu blog aí!

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